A homossexualidade é mal compreendida em Portugal por causa de uma combinação de fatores: herança histórica e religiosa conservadora, falhas no sistema educativo, representações estereotipadas nos media, confusões básicas entre conceitos como orientação e identidade de género, e desigualdades entre regiões e classes sociais.
Tudo isto contribui para que muitas pessoas ainda vejam a homossexualidade como algo estranho, errado ou até ameaçador, quando, na verdade, é apenas uma forma natural de amar.
Se leres este artigo até ao fim, vais:
- Entender por que razão ainda há tanto preconceito em Portugal;
- Saber distinguir entre orientação, identidade e expressão de género;
- Descobrir o papel da escola, da religião, dos media e do território na formação de opiniões;
- Conhecer factos curiosos e argumentos que podes usar em conversas ou debates;
- Sentir-te mais preparado para ser uma voz de respeito e inclusão na tua comunidade.
1. Herança histórico‑cultural e religiosa
A homossexualidade é muitas vezes mal compreendida em Portugal por causa da nossa herança histórico‑cultural e religiosa.
Isto quer dizer que, durante muito tempo, fomos ensinados a ver o mundo de uma certa maneira, onde o normal era homem e mulher casarem, terem filhos, e tudo o resto era pecado, vergonha ou simplesmente não se falava.
Ora, quando algo é escondido ou proibido durante tanto tempo, é natural que se crie medo, preconceito e desinformação à volta disso.
Durante o Estado Novo, Salazar e companhia fizeram questão de manter a sociedade bem controladinha, e isso incluía a sexualidade das pessoas.
A Igreja Católica, com grande influência social, reforçava a ideia de que o único modelo aceitável era o da família tradicional. Quem fugisse a esse modelo era visto como desviante.
Mesmo depois da revolução de 25 de Abril, essas ideias não desapareceram de um dia para o outro. Continuaram nas casas, nas escolas, nas conversas de café. Resultado? Muita gente cresceu sem entender, ou pior, sem querer entender, o que significa ser homossexual.
Você sabia:
- A homossexualidade foi considerada crime em Portugal até 1982.
- Só nos anos 90 é que começaram a aparecer personagens LGBT em novelas.
- Só em 2009 é que se legalizou o casamento entre pessoas do mesmo sexo.
- Ainda hoje há escolas que evitam falar de diversidade sexual por medo de polémica.
Não é uma teoria tirada da cartola, é o reflexo de muitos anos de repressão e falta de debate público. E como se costuma dizer: quem não é visto, não é lembrado.
2. Lacunas na educação e na literacia em diversidade
A homossexualidade é mal compreendida em Portugal porque a nossa educação ainda falha bastante quando o assunto é diversidade sexual.
Nas escolas, fala-se pouco sobre orientação sexual, identidade de género ou respeito pelas diferentes formas de amar.
Muitos jovens acabam por crescer com ideias erradas ou preconceituosas simplesmente porque ninguém lhes explicou as coisas como deve ser. E quando não se aprende em casa, nem na escola… onde é que se aprende? No TikTok? Pois.
Em alta entre os leitores:
A verdade é que a educação sexual em Portugal é obrigatória por lei, mas nem sempre é aplicada de forma consistente. Há escolas que fazem sessões informativas com profissionais bem formados, mas há outras que apenas passam uma folha e está feito.
Além disso, muitos professores não têm formação específica para abordar temas como homossexualidade, o que leva a um grande silêncio à volta do assunto. E como diz o povo: onde há silêncio, crescem os mitos. E dos mitos ao preconceito vai um passinho.
| Mito comum | Realidade |
|---|---|
| “É só uma fase“ | A orientação sexual não é uma escolha nem uma fase. |
| “É por influência dos amigos“ | A homossexualidade não se pega. |
| “Todos os gays são afeminados“ | Estereótipos não representam a realidade. |
| “Na escola não se fala disso“ | A lei obriga à educação sexual, sim senhor. |
Ou seja, é uma questão de falta de investimento e coragem para enfrentar o tema de frente.
3. Estereótipos mediáticos e invisibilidade
A homossexualidade continua a ser mal compreendida em Portugal porque, durante muito tempo, o que se via na televisão e nos filmes eram caricaturas, e não pessoas reais.
Se eras homossexual, eras “o amigo gay engraçado“, a lésbica “masculina e revoltada” ou então nem aparecias de todo.
E quando uma pessoa vê sempre os mesmos clichés, começa a acreditar que aquilo é a única verdade possível. Ora, isso cria uma imagem distorcida e pobre da realidade.
Durante décadas, os media portugueses (televisão, cinema, humor) trataram os temas LGBT com muito pouca seriedade. Personagens gays eram usados como alívio cómico, com vozes exageradas, roupas espalhafatosas e zero profundidade emocional.
Pior ainda: raramente se via um casal do mesmo sexo a viver uma relação normal, com problemas e alegrias como qualquer outro casal.
Essa invisibilidade faz com que muitos portugueses nunca tenham tido contacto real com narrativas LGBT humanas, variadas e respeitosas. Resultado? Gerações inteiras cresceram a achar que homossexuais são todos iguais.
- A primeira novela portuguesa com um beijo entre dois homens foi só em 2010.
- A maioria dos filmes portugueses ainda evita protagonistas LGBT.
- Programas de humor dos anos 90 usavam personagens gays como piada fácil.
- A representação de pessoas trans é quase inexistente nos media portugueses.
Quando só há caricaturas, o preconceito cresce. É como diz o ditado: “Quem só conhece uma história, julga que é a única“.
4. Confusão conceptual: orientação ≠ identidade de género ≠ expressão
A homossexualidade é mal compreendida em Portugal porque muita gente ainda baralha os conceitos: confundem orientação sexual com identidade de género e com expressão de género.
Isto é simples: orientação é sobre quem amas, identidade é quem és, e expressão é como mostras isso ao mundo. Mas quando metem tudo no mesmo saco, dá confusão. E da confusão vem o preconceito.
Por exemplo, há quem veja um homem afeminado e ache logo que é homossexual, mas não é assim tão linear. Pode ser hétero, pode ser bissexual, pode ser o que quiser.
Outros pensam que todas as pessoas trans são homossexuais, o que também não é verdade.
E se ninguém nos ensina estas diferenças básicas, continuamos a julgar com base em aparências, o que é tão eficaz como diagnosticar gripe só por alguém estar a usar cachecol.
| Conceito | Significado Simples |
|---|---|
| Orientação sexual | Quem te atrai (ex.: homens, mulheres, ambos) |
| Identidade de género | Quem és (ex.: homem, mulher, não-binário) |
| Expressão de género | Como te apresentas (ex.: roupa, gestos, voz) |
| Sexo biológico | Características físicas (ex.: genitais, cromossomas) |
Quando os conceitos são mal explicados, ou nem sequer explicados, a ignorância reina. E como sabemos, ignorância e preconceito andam sempre de mãos dadas.
5. Desigualdades sociais e território + desinformação online
A homossexualidade é mal compreendida em Portugal também por causa das desigualdades sociais e das diferenças entre viver numa grande cidade ou numa zona mais isolada.
Não é a mesma coisa crescer em Lisboa, rodeado de eventos LGBT, centros de apoio e visibilidade, do que viver numa aldeia no interior onde isso nem se fala.
E como se não bastasse, a internet (que podia ajudar) muitas vezes atrapalha, espalhando mentiras e teorias da conspiração sobre homossexualidade.
Você sabia:
- Em muitos concelhos do interior, não há qualquer associação LGBT local.
- Jovens LGBT têm mais dificuldade em aceder a psicólogos com formação adequada fora dos grandes centros.
- Vídeos com desinformação sobre homossexualidade acumulam milhões de visualizações nas redes.
- Estudos mostram que jovens LGBT em zonas rurais têm maior risco de isolamento, ansiedade e depressão.
Perguntas frequentes
- O que é ser homossexual?
É sentir atração romântica ou sexual por pessoas do mesmo sexo. - Ser homossexual é uma escolha?
Não. Ninguém escolhe por quem se apaixona. É algo natural. - Porque é que ainda há tanto preconceito?
Porque durante muitos anos não se falava do assunto. A ignorância alimenta o preconceito. - A religião é contra os homossexuais?
Algumas interpretações religiosas são mais rígidas, mas muitas pessoas religiosas aceitam e respeitam a diversidade. - Os homossexuais querem impor o seu estilo de vida?
Não. Só querem viver com os mesmos direitos e respeito que qualquer pessoa. - Homossexualidade e identidade de género são a mesma coisa?
Não. Uma coisa é quem te atrai (orientação sexual), outra é quem tu és (identidade de género). - Pode-se curar a homossexualidade?
Não, e tentar mudar a orientação sexual de alguém é perigoso e ilegal em vários países. - Todos os homossexuais têm um ar diferente?
Claro que não. Há tanta variedade entre pessoas homossexuais como entre heterossexuais. - Porque é que há mais homossexuais agora do que antigamente?
Sempre houve. A diferença é que agora há mais liberdade para se assumir. - É normal um jovem ter dúvidas sobre a sua sexualidade?
Sim, é muito comum. O importante é ter espaço para refletir e apoio. - A escola devia ensinar sobre homossexualidade?
Sim. A educação deve incluir todas as formas de amor e respeito. - Os media ajudam ou atrapalham?
Depende. Quando mostram diversidade com respeito, ajudam. Quando usam estereótipos, atrapalham. - A internet é uma boa fonte de informação sobre homossexualidade?
Tem coisas boas e más. É preciso saber filtrar e procurar fontes seguras. - É mais difícil ser homossexual fora das grandes cidades?
Geralmente sim, porque há menos apoio, mais isolamento e mais preconceito. - O que posso fazer para combater o preconceito?
Ouvir com mente aberta, informar‑te, respeitar as diferenças e falar quando vires injustiça.

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