Relações em Portugal, com mais presença, afeto e consciência.

Não! A orientação sexual não é uma escolha e nem uma fase

|

Tempo de leitura: 10 minutos

Não! A orientação sexual não é uma escolha e nem uma fase

A orientação sexual não é escolha nem fase: nasce connosco, faz parte da nossa identidade e não muda ao sabor da vontade, da moda ou da pressão social.

A orientação sexual não é uma escolha e muito menos uma fase, porque nasce connosco e faz parte daquilo que somos.

Tal como não escolhemos ser mais baixos ou mais altos, nem decidimos se temos olhos castanhos ou azuis, também não decidimos por quem nos sentimos atraídos. É algo natural, que acontece independentemente da nossa vontade.

Para resolver o problema das ideias erradas sobre o tema, é preciso informação clara e acessível. Conversar de forma simples, sem palavras complicadas, é um bom começo.

O diálogo aberto em família, nas escolas e até nas igrejas pode ajudar a acabar com preconceitos. Além disso, dar espaço para que cada pessoa se descubra e se aceite é essencial. Informação correta é o melhor antídoto contra a ignorância.

E porque deves ler este artigo até ao fim?

  • Vais perceber de uma vez por todas porque é que a orientação sexual não é escolha.
  • Vais ter argumentos simples para rebater preconceitos em conversas.
  • Vais conhecer factos curiosos da ciência e da história.
  • Vais entender como o contexto cultural e religioso influencia o tema.
  • Vais sentir-te mais preparado para lidar com o assunto na tua vida ou apoiar alguém próximo.

1. Base biológica e genética

A orientação sexual não é uma escolha porque já nasce connosco, está escrita no nosso corpo e no nosso cérebro, tal como a cor dos olhos ou a altura.

Se alguém nasce a sentir atração por pessoas do mesmo sexo, não é porque decidiu um dia ao acordar que ia gostar disso. Simplesmente, já vinha no “pacote” biológico.

Esta ideia é confirmada por inúmeros estudos científicos, feitos em universidades de renome, que mostram que a genética e a biologia influenciam fortemente a orientação sexual.

Os genes, as hormonas e até a forma como o cérebro se organiza ainda durante a gravidez são fatores que moldam a sexualidade de cada pessoa. Por isso, não faz sentido culpar, castigar ou tentar “corrigir” aquilo que faz parte natural de alguém.

Você sabia:

  • Estudos com gémeos idênticos mostram que, quando um é homossexual, há mais probabilidade de o outro também ser.
  • O cérebro de pessoas homossexuais apresenta diferenças estruturais em áreas ligadas à atração e ao desejo.
  • Animais como golfinhos e pinguins também mostram comportamentos homossexuais estáveis.
  • A genética não explica tudo, mas contribui muito para entendermos a diversidade sexual.

A orientação sexual funciona assim: pode ser escondida, disfarçada, até reprimida, mas não desaparece porque não depende da nossa vontade.

Se fosse escolha, já tínhamos visto milhares de pessoas a mudarem de orientação como quem muda de camisa, e isso simplesmente não acontece.

E já que estamos a falar de biologia e corpo, é natural que surjam dúvidas noutras áreas da sexualidade. Muitos jovens portugueses, por exemplo, perguntam-se se é normal explorarem o próprio corpo a sós.

Sobre isso, há um artigo interessante que responde precisamente à pergunta Sou jovem português e pergunto: é normal masturbar-me a sós?. Vale a pena dar uma vista de olhos.


2. Diferenças neurológicas

A orientação sexual não é uma fase porque até o nosso cérebro mostra isso. É algo que se vê em imagens neurológicas, em estudos sérios feitos por cientistas.

Vários investigadores descobriram que certas áreas do cérebro funcionam de forma diferente em pessoas heterossexuais, homossexuais e bissexuais. Isto não quer dizer que um cérebro seja “melhor” do que outro, apenas que são diferentes, como quem nasce destro ou canhoto.

Essas diferenças não aparecem do nada numa fase da vida, já estão lá desde cedo. Ou seja, não é que a pessoa acorda um dia e decide “hoje sou isto, amanhã sou aquilo“. É o cérebro a ditar as regras.

Tabela rápida das diferenças observadas em estudos:

Área do cérebroO que se notou
HipotálamoEstrutura distinta em pessoas homossexuais
AmígdalaProcessa emoções e reage de forma única consoante a orientação
Conectividade cerebralLigações diferentes em redes ligadas ao desejo
Resposta a estímulosAtividade cerebral varia conforme a atração real, não o que a sociedade manda

Se fosse uma fase, essas diferenças no cérebro iam aparecer e desaparecer conforme a moda, mas não é isso que acontece. Elas mantêm-se estáveis ao longo da vida.

Portanto, não estamos a falar de uma mania de adolescência ou de um teste que se faz e depois passa. É a estrutura interna de cada pessoa.


3. Início precoce

A orientação sexual não é uma escolha porque muitas pessoas já sentem desde crianças de quem gostam. Há quem se lembre de ainda no primeiro ciclo achar o colega ou a colega da sala bonito/a, sem sequer entender bem o que era namorar ou sexo.

Muitos jovens portugueses passam por isso em silêncio, porque ainda não têm palavras ou coragem para falar.

Mas o facto de sentirem atração tão cedo já é uma prova de que não se trata de uma moda da adolescência, mas de uma característica da própria identidade.

Você sabia:

  • Crianças homossexuais costumam sentir atração antes dos 10 anos, tal como as heterossexuais.
  • Não é necessário envolvimento sexual para perceber a atração: basta a sensação de “borboletas no estômago”.
  • Muitas pessoas relatam que a primeira “paixoneta” foi por alguém do mesmo sexo, mesmo antes de saberem o que era homossexualidade.
  • Estudos mostram que tentar negar esses sentimentos só gera confusão e sofrimento.

Se algo se manifesta tão cedo e de forma espontânea, não pode ser uma fase escolhida. A fase é temporária, a orientação não.

O que acontece é a pessoa só mais tarde encontrar coragem para assumir o que sempre sentiu.

E por falar em coragem, há um tema fundamental: como lidar com o julgamento quando alguém começa a descobrir a sua sexualidade. Existe um artigo útil chamado Como lidar com o julgamento na descoberta da sexualidade? que ajudará quem sente o peso do olhar alheio.


4. Presença universal

A orientação sexual não é uma fase porque existe em todas as culturas e épocas da história.

Encontramos relatos de homossexualidade na Grécia Antiga, em tribos africanas, em povos indígenas das Américas e até em textos orientais milenares.

Isto mostra que não é um comportamento inventado pelo Ocidente moderno nem uma moda importada de filmes ou redes sociais. Faz parte da humanidade desde sempre.

Em Portugal, apesar da forte influência católica e de séculos de conservadorismo, também houve sempre quem sentisse atração pelo mesmo sexo: apenas vivia em silêncio ou escondido, com medo de perseguição.

Você sabia:

  • No Japão do período samurai, relações entre homens eram vistas como parte normal da vida militar?
  • Os gregos antigos valorizavam relações entre homens mais velhos e jovens aprendizes como forma de educação?
  • Povos indígenas da América reconheciam identidades “dois espíritos”, que incluíam atração por ambos os sexos?
  • Até em Portugal medieval existiam registos de condenações de pessoas por práticas homossexuais.

Se algo aparece em todas as épocas e locais, é porque faz parte da natureza humana. É diversidade, tal como a cor da pele ou os sotaques que temos de Norte a Sul do país.

E já que falamos de diversidade e incompreensão, existe uma questão que muitos ainda se fazem: Porque é que a homossexualidade é tão mal compreendida?


5. Influência do contexto cultural e religioso

A orientação sexual não é uma escolha porque ela aparece e mantém-se mesmo quando a cultura ou a religião não aprovam.

Se fosse apenas uma fase, bastava uma pessoa ouvir que “é pecado” ou que “não é natural” e mudava logo. Mas não é isso que acontece: mesmo em ambientes muito rígidos, a atração continua lá.

Hoje, embora a sociedade esteja mais aberta e tenhamos leis de igualdade, ainda existem vozes que insistem que a orientação é uma questão de decisão. Mas a verdade é que, se fosse escolha, ninguém escolheria sofrer preconceito, perder emprego, ser alvo de bullying ou rejeição familiar.

ContextoRealidade observada
Igreja CatólicaDurante séculos condenou, mas nunca apagou a existência de pessoas homossexuais.
Ditadura do Estado NovoCriminalizou e perseguiu, mas a orientação sexual manteve-se.
Democracia atualMais abertura legal e social, mas ainda há preconceito em muitos meios.
Gerações jovensMaior aceitação, mas pressão cultural e familiar ainda forte.

Se fosse apenas uma moda, o peso da cultura e da religião já a teria eliminado há muito tempo. O que muda é a forma como a sociedade reage: pode apoiar ou pode reprimir, mas não pode apagar.


Perguntas frequentes

  1. A orientação sexual é uma escolha?
    Não. Tal como não escolhes a cor dos olhos ou o timbre da tua voz, a orientação sexual também não se escolhe.
  2. Então porque é que algumas pessoas dizem que mudaram de orientação?
    Na maioria dos casos, não mudaram. Apenas estavam a esconder quem realmente eram por medo do julgamento.
  3. Mas não pode ser só uma fase da adolescência?
    Não. O que pode acontecer é uma pessoa estar a descobrir-se nessa fase. Mas a orientação em si já lá estava desde cedo.
  4. Porque é que algumas pessoas demoram mais a assumir a orientação?
    Por causa do medo da rejeição familiar, religiosa ou social. Muitas vezes escondem-se para evitar sofrimento.
  5. A religião pode mudar a orientação sexual de alguém?
    Não. Pode levar a pessoa a reprimir-se, mas a atração continua lá.
  6. E se uma pessoa tiver experiências com ambos os sexos?
    Isso não significa fase. Pode ser apenas exploração, ou pode ser bissexualidade, que também é uma orientação estável.
  7. Porque é que há quem diga “eu decidi ser gay/lésbica“?
    Na verdade, a pessoa não decidiu sentir atração. Decidiu apenas assumir a sua orientação, o que é muito diferente.
  8. Se fosse escolha, alguém ia mesmo optar por sofrer preconceito?
    Claro que não. Ninguém escolheria ser alvo de discriminação. Isso por si só já mostra que não é escolha.
  9. Os cientistas concordam que a orientação não é escolha?
    Sim. As maiores organizações de saúde e psicologia do mundo afirmam isso com clareza.
  10. Então porque ainda há gente que acredita que é escolha?
    Porque existe desinformação, preconceito cultural e influência religiosa. Mudar mentalidades demora tempo.
  11. É possível “curar” a homossexualidade?
    Não. O que se chama terapia de conversão foi condenado por ser perigoso e por causar danos psicológicos.
  12. Porque é que a orientação sexual surge tão cedo?
    Porque já nasce connosco. Muitas crianças sentem paixonetas ainda no primário, antes de sequer entenderem o que é sexo.
  13. E se alguém sentir que a sua orientação mudou ao longo da vida?
    Pode acontecer a descoberta tardia, ou a pessoa pode ser bissexual. Mas não é mudar de fase, é a identidade real a vir ao de cima.
  14. A orientação pode ser influenciada por amigos, filmes ou moda?
    Não. O que acontece é que, ao ver mais representatividade, a pessoa sente coragem para assumir o que já sentia.
  15. Então, em resumo, qual é a melhor forma de entender isto?
    Pensar assim: a orientação sexual é como a mão dominante. Não escolhes ser destro ou canhoto, apenas descobres ao longo da vida qual és.

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *


Categorias

Ciúme (15) Comunicação (17) Fim da relação (16) Mundo digital (16) Namoro online (14) Sexualidade (15) Traição (20)