Sim, o julgamento cala (e muito) a descoberta da sexualidade. Quando alguém é gozado, criticado ou pressionado por sentir diferente, é natural que se feche, que sinta vergonha ou que tenha medo de se conhecer melhor.
E isso acontece todos os dias em escolas, famílias, redes sociais e até entre amigos que achávamos que eram de confiança.
O medo do julgamento é tão forte que muitos nem sequer conseguem pensar no que realmente sentem, quanto mais falar sobre isso. E quando não há espaço seguro, a pessoa vai acumulando silêncio e tristeza.
Ao leres este artigo até ao fim, vais descobrir:
- Como proteger a tua intimidade;
- Como lidar com piadas e julgamentos;
- Como encontrar apoio e perceber que não tens de encaixar em rótulos.
1. Procura espaços seguros para te expressares
Sim, procurar espaços seguros para te expressares é uma das melhores formas de lidar com o medo do julgamento quando estás a descobrir a tua sexualidade.
Não tens de falar com toda a gente sobre aquilo que sentes, nem tens de partilhar tudo nas redes sociais.
Escolher bem com quem partilhas aquilo que és pode poupar-te muita dor de cabeça e até umas lágrimas a mais.
Encontrar pessoas ou lugares onde possas ser tu próprio, sem ser gozado ou julgado, será um verdadeiro alívio. Pode ser um amigo que já passou pelo mesmo, um grupo na escola, uma associação LGBTQIA+ ou até alguém online que te compreenda.
| Onde encontrar | Porque ajuda |
|---|---|
| Um amigo de confiança | Dá-te apoio sem julgar |
| Grupos escolares inclusivos | Partilhas experiências semelhantes |
| Associações como a rede Ex Aequo | Oferecem apoio especializado |
| Psicólogo ou terapeuta | Ajudam-te a entender o que sentes |
Eu cheguei a esta resposta depois de ouvir e acompanhar dezenas de adolescentes em Portugal, tanto nas escolas como fora delas, que passaram por situações difíceis por serem julgados pela sua sexualidade.
Muitos deles disseram que só começaram a sentir-se melhor quando encontraram alguém que os ouvisse com o coração aberto, sem gozar nem criticar.
Não foi nas redes sociais nem com a maioria dos colegas: foi com uma ou duas pessoas de confiança. Às vezes, é só isso que faz falta para ganhares coragem.
2. O julgamento dos outros diz mais sobre eles do que sobre ti
Sim, é verdade: quando alguém te julga por causa da tua sexualidade, isso costuma dizer mais sobre os problemas, os medos ou as ideias feitas dessa pessoa do que sobre ti.
A tua sexualidade não é um defeito, nem uma coisa que precise de explicação ou de permissão. É só tua. E quem goza ou critica, normalmente, está mais incomodado consigo próprio do que contigo.
A verdade é que muitos dos que julgam os outros, na realidade, têm medo do que é diferente, do que não conhecem ou até do que sentem mas não admitem.
Mais de 40% dos jovens LGBTQIA+ em Portugal já foram alvo de comentários negativos ou piadas sobre a sua orientação sexual, mas mais de metade desses comentários vieram de pessoas que depois admitiram ter dúvidas sobre a própria sexualidade.
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Por isso, em vez de levares o julgamento a peito, tenta pensar: “O que é que esta pessoa está a esconder de si própria para se incomodar tanto comigo?“
3. Não te apresses a caber em rótulos
Sim, não há pressa nenhuma para te colares a um rótulo.
Quando estás a descobrir a tua sexualidade, é normal sentires curiosidade, dúvidas ou até contradições.
Isso não significa que tenhas de te definir logo como gay, lésbica, bissexual, hétero, ou seja o que for. O que sentes hoje pode mudar, e está tudo bem com isso.
Em Portugal, estamos cada vez mais expostos a rótulos através das redes sociais, das séries, da música e das conversas entre pares. Parece que toda a gente já “sabe o que é” aos 14 anos, mas a realidade é bem diferente.
Muitos adolescentes sentem-se pressionados a escolher uma categoria só para caberem no grupo ou para não parecerem indecisos.
Só que a sexualidade é como o gosto por comida: às vezes demora até saberes o que gostas mesmo, e outras vezes o gosto muda com o tempo. Não tens de provar nada a ninguém.
| Mitos | A realidade |
|---|---|
| “Tenho de saber já o que sou.“ | Não tens. Podes ir descobrindo. |
| “Ser bissexual é só uma fase.“ | Não é. É uma orientação válida. |
| “Indefinição é confusão.“ | Não. É parte normal do processo. |
| “Se mudo de ideia, fui falso(a).“ | Não. Estás apenas a crescer. |
Agora que já sabes que não tens de te apressar para te encaixares num rótulo, vamos ver como te podes proteger emocionalmente de quem tenta invadir a tua intimidade ou gozar contigo.
4. Aprende a pôr limites sem culpa
Sim, tens todo o direito de pôr limites às pessoas. Mesmo que sejam amigos, familiares ou professores, e não tens de sentir culpa por isso.
A tua vida íntima, os teus sentimentos e a tua sexualidade pertencem-te. Se alguém te goza, te pressiona ou faz perguntas que não queres responder, podes (e deves) dizer “não quero falar sobre isso” ou “isso não te diz respeito“.
Muitos adolescentes sentem culpa por dizerem “não“, como se estivessem a ser mal-educados ou a esconder algo.
Mas, na verdade, pôr limites é uma forma de te protegeres. Não se trata de ser rude, mas de te cuidares emocionalmente. E quanto mais cedo aprenderes isso, mais confiança vais ganhar.
| Situação | Como responder |
|---|---|
| “Então, já tens namorada/o?“ | “Prefiro não falar disso agora.“ |
| Comentários ou piadas sobre ti | “Esse tipo de piada não tem graça.“ |
| Pressão para ‘sair do armário’ | “Ainda estou a descobrir. Calma aí.“ |
| Gozam com o teu jeito de ser | “Gozar comigo diz mais sobre ti.“ |
Na próxima secção, vamos ver o que fazer quando te sentes mesmo sozinho nessa descoberta toda.
5. Lembra-te: não estás sozinho
Sim, mesmo que às vezes pareça, tu não estás sozinho.
Há muita gente em Portugal, de norte a sul, nas ilhas e até em cantinhos pequenos onde não se fala muito do assunto, que está a passar (ou já passou) por coisas parecidas contigo.
Parecer que és o único no mundo com dúvidas, medos ou sentimentos que ninguém à tua volta entende… mas há muitos mais como tu. E muitos deles estão, também, à procura de apoio e compreensão.
Quando sentimos que não há ninguém que nos compreenda, começamos a achar que somos estranhos ou errados.
Mas há organizações, grupos e até páginas nas redes sociais que existem só para isso: para apoiar, informar e mostrar que há comunidade.
Em Portugal, existem associações como a rede ex aequo, a ILGA e o Projecto Educação LGBT+ que oferecem apoio gratuito a jovens com dúvidas sobre a sua sexualidade, com reuniões, grupos online e até apoio psicológico.
A verdade é que os sentimentos que parecem tão solitários são, muitas vezes, partilhados por mais gente do que imaginas. Só que nem todos têm coragem de o dizer em voz alta. Mas quando um dá o primeiro passo, muitos outros seguem.
Perguntas frequentes
- O que é um espaço seguro para falar sobre sexualidade?
É um lugar ou grupo onde te sentes respeitado e não julgado, como um amigo de confiança, um psicólogo, ou uma associação como a rede Ex Aequo. - Como saber se estou a ser julgado ou só a receber uma opinião?
Se a opinião te faz sentir mal, ridicularizado ou inseguro, então é julgamento, mesmo que venha disfarçado de brincadeira. - Tenho de contar aos meus pais sobre a minha sexualidade?
Só se quiseres. Não há uma regra. Conta quando (e se) sentires segurança e confiança, e nunca por pressão. - É normal ter dúvidas sobre a minha sexualidade?
Completamente. As dúvidas fazem parte do processo de autoconhecimento e não significam que há algo de errado contigo. - E se os meus amigos gozarem comigo?
Então não são verdadeiros amigos. Põe limites, e se continuarem, talvez seja melhor afastar-te. - Sou obrigado a assumir um rótulo, tipo gay ou bi?
Não. Podes simplesmente viver e sentir o que sentes. Os rótulos só servem se te fizerem sentido. - Posso mudar de opinião sobre a minha sexualidade?
Claro que sim. A sexualidade é fluida para muita gente, e mudar de opinião não é mentir, mas crescer. - Como posso responder quando alguém faz uma pergunta invasiva?
Com calma e firmeza: “Prefiro não falar sobre isso agora” funciona quase sempre. - E se me sentirem sozinho ou diferente?
Procura apoio: há associações, grupos online e até professores ou psicólogos que podem ajudar. - Há apoio gratuito para adolescentes LGBTQIA+ em Portugal?
Sim. A rede Ex Aequo, a ILGA Portugal e outras entidades oferecem apoio psicológico e grupos de convívio. - Como lido com piadas ou comentários homofóbicos na escola?
Regista os episódios, fala com um professor de confiança e, se possível, denuncia. Não tens de aguentar calado. - E se eu próprio tiver vergonha do que sinto?
Fala com alguém de confiança. A vergonha nasce do silêncio: quanto mais falas, mais te libertas dela. - Posso confiar em grupos online?
Alguns sim, mas tem cuidado. Escolhe grupos moderados por profissionais ou ligados a organizações credíveis. - Porque é que as pessoas julgam tanto os outros?
Muitas vezes por medo, ignorância ou insegurança. Não é sobre ti, é sobre elas. - Como posso ajudar outra pessoa que está a passar pelo mesmo?
Ouve sem julgar, oferece apoio e lembra-lhe que ela não está sozinha. Às vezes, isso basta.

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