Se estás a sofrer há meses desde o fim da relação e perguntas todos os dias “porque é que isto ainda dói tanto?“, fica já a saber: não estás sozinho/a e sim, é normal sentir essa dor por mais tempo do que gostavas.
O coração não anda à velocidade dos conselhos alheios nem segue o calendário do Google. Quando uma relação acaba, não acaba só o namoro, acaba uma parte de ti. E isso leva tempo a reconstruir.
Se leres este artigo até ao fim, vais:
- Compreender melhor o teu próprio sofrimento;
- Saber o que te está a prender ao passado;
- Descobrir estratégias reais para recuperar o teu equilíbrio;
- Sentir-te mais capaz de fechar este ciclo com dignidade;
- E talvez até dares uma gargalhada (ou duas) pelo caminho.
É normal sentir esta dor?
Sim, é completamente normal continuares a sentir dor mesmo passados meses do fim de uma relação.
Por mais que os teus amigos digam “já devias estar noutra” ou que vejas nas redes sociais aquele/a ex todo feliz e tu todo despedaçado, o coração não segue um calendário.
Cada pessoa vive o luto amoroso ao seu ritmo e, em Portugal, onde ainda há muita vergonha em falar das emoções, a tendência é enfiar o sofrimento debaixo do tapete. Mas ele fica lá, a latejar.
O fim de uma relação é um tipo de perda afectiva profunda. Não é só a pessoa que se vai embora. Vai-se embora a rotina, os planos para o futuro, os jantares de domingo em casa da sogra (que até já te tratava por genro ou nora), e vai-se embora aquela sensação de “somos dois contra o mundo“.
E quando tudo isso desaparece, o corpo e a mente entram numa espécie de choque. É como se estivesses a reaprender a viver… mas sozinho.
Além disso, muitos de nós crescemos a ver novelas da TVI e filmes da Disney, cheios de finais felizes, onde o amor verdadeiro é para sempre. Isso cria uma expectativa irrealista: se acabou, é porque falhei. E não é bem assim.
Acabar uma relação é ser, na verdade, um acto de coragem. Só que o cérebro, e o coração, nem sempre percebem isso logo de início. E por cá, não é raro ouvir comentários como “isso é só mimo” ou “isso passa com uma mini e uns caracóis“, o que só torna tudo mais difícil.
Mais de 60% dos portugueses dizem que já passaram por uma dor de amor que demorou mais de 6 meses a sarar
Outro ponto importante: o que estás a sentir não é apenas a falta da pessoa, mas também a falta de ti próprio dentro daquela relação. Ficaste tanto tempo focado no “nós” que agora tens de redescobrir o “eu“. Isso leva tempo. E está tudo bem com isso.
A forma como a relação terminou influencia a duração da dor?
Claro que sim! A maneira como uma relação acaba tem tudo a ver com o tempo que o coração demora a sarar. Não é a mesma coisa acabar com uma conversa franca, olho no olho, do que seres deixado por mensagem de WhatsApp ou, pior ainda, levar um “ghosting” daqueles que te fazem duvidar se a pessoa alguma vez existiu.
Em Portugal, onde ainda se valoriza o contacto humano, a palavra dada e o “olhos nos olhos“, ser descartado de forma fria dói como uma chapada emocional.
Imagina o seguinte: estás numa tasca, pedes um bitoque, o empregado olha para ti e vai-se embora sem dizer nada. Tu ficas ali à espera, sem saber se ele foi buscar o prato ou se desistiu de ti.
O fim de uma relação mal resolvida é assim: deixa-te sem fecho, sem saber o que correu mal, o que podias ter feito diferente, ou até se alguma vez foste suficiente. E isso consome-te.
Além disso, quando não há explicações claras, a cabeça inventa. Começas a rever cada detalhe, cada discussão, cada silêncio… e lá estás tu a criar um filme com mais drama que uma novela da SIC.
Essa falta de clareza aumenta o tempo da dor, porque o cérebro precisa de sentido para seguir em frente. E se não o encontra, fica preso no passado.
| Tipo de término | Impacto típico |
|---|---|
| Conversa honesta e respeitosa | Mais fácil de aceitar |
| Ghosting ou silêncio total | Confusão, raiva, obsessão |
| Traição ou mentira descoberta | Trauma, perda de confiança |
Aqui em Portugal, onde ainda é comum fingirmos que está tudo bem com um “estou a aguentar“, muitas pessoas carregam dores antigas durante anos. E como a saúde mental ainda carrega algum estigma, muita gente evita procurar ajuda, prolongando o sofrimento.
Em alta entre os leitores:
O facto de eu pensar constantemente na pessoa significa que ainda estou apaixonado/a?
Nem sempre. Pensares constantemente na pessoa não quer dizer, necessariamente, que ainda estás apaixonado/a. Às vezes, estás é preso/a num ciclo mental que o cérebro cria quando algo termina de forma marcante.
Ficar a remoer no/a ex é mais um sinal de falta de fecho ou de hábito emocional do que de amor verdadeiro ainda presente. Em bom português: é ser só a cabeça a pregar partidas.
Vê lá se isto te soa familiar: estás a lavar a loiça e, do nada, lembras-te daquela vez em que foram ao Gerês e ele/a te disse que queria envelhecer contigo. Ou estás na fila do Pingo Doce e alguém tem o mesmo perfume, e lá vem outra vez o filme todo.
Isso não é sempre amor. É apenas o teu cérebro a tentar entender uma perda, como quem diz “espera lá, isto não devia ter acabado, pois não?“
É que o cérebro humano detesta “finais abertos“. E muitas vezes, quando não temos respostas, ficamos a rebobinar mentalmente tudo o que aconteceu à procura de pistas. É como se estivéssemos a tentar resolver um crime que não tem solução.
Em psicologia, isso chama-se ruminação, e não, não é só para as vacas. É aquele pensamento repetitivo, cansativo e quase automático que, em vez de ajudar, só prolonga o sofrimento.
Além disso, há outra coisa: estar habituado/a à presença da pessoa. Acordar, mandar mensagem. Almoçar, partilhar foto. Deitar, desejar boa noite. Quando essa rotina desaparece, o cérebro entra em modo de abstinência. Tal como quando se deixa de fumar ou de beber café. Não estás apaixonado/a, estás “desprogramado/a“.
O cérebro demora, em média, 21 dias para se adaptar à ausência de uma rotina emocional. Mas o apego leva meses a dissolver-se, especialmente se não houver distrações saudáveis.
Dica útil: Em vez de te perguntares “porque é que ainda penso nele/nela?“, tenta perguntar: “O que é que ainda estou à procura nesta lembrança?“
Estar constantemente a ver as redes sociais do/a ex está a prolongar o meu sofrimento?
Epá, sim. E de que maneira! Estar sempre a espreitar o Instagram ou o Facebook do/a ex é como estar a coçar uma ferida: parece que alivia na hora, mas só atrasa a cicatrização.
O problema é que, em vez de aceitares que a relação acabou, acabas por alimentar a ilusão de que ainda há ligação. E pior: ficas a comparar a tua dor com o sorriso falso do/a outro/a, que parece estar a viver num anúncio da NOS.
Hoje em dia, em Portugal e no mundo, as redes sociais são vitrinas de felicidade. A pessoa está a chorar no quarto, mas publica uma foto com a legenda “a viver o melhor da vida“.
E tu, que estás num estado emocional frágil, levas aquilo como verdade absoluta. Achas que ele/a já te esqueceu, que tu é que és o/a fraco/a, que nunca vais superar. Mas calma, o que vês não é real. É curado, editado e filtrado.
Além disso, há um vício psicológico envolvido. Cada vez que vês uma story ou uma foto, o cérebro ativa um circuito de recompensa parecido ao que acontece com quem joga às raspadinhas ou come chocolate: quer mais.
Cria-se uma dependência do sofrimento. E pior, isso impede-te de viver o teu próprio luto amoroso. É como se estivesses sempre a puxar o travão de mão quando estavas quase a arrancar.
Espiar as redes do/a ex está directamente associado a sintomas de depressão, ansiedade e baixa auto-estima, especialmente entre os 20 e 40 anos.
| Comportamento | Impacto na recuperação |
|---|---|
| Ver redes sociais diariamente | Prolonga o sofrimento emocional |
| Bloquear ou deixar de seguir | Facilita o desapego |
| Apagar conversas antigas | Ajuda a fechar ciclos |
Dica prática: desactiva as notificações, bloqueia se precisares, ou até pede a um amigo para mudar a tua password das redes durante uns tempos. Libertar espaço digital é libertar espaço emocional.
Será que estou inconscientemente à espera que a pessoa volte?
Olha, é bem possível. Muita gente, mesmo sem dar conta, fica ali num estado de espera silenciosa. Vives o dia-a-dia, vais ao trabalho, ris-te com os amigos… mas lá no fundo, há sempre aquela esperança: “um dia ele/a vai perceber o que perdeu e vai voltar.“
Isso, meu/minha caro/a, é uma armadilha emocional das grandes. Porque ficas parado/a à espera de algo que pode nunca acontecer.
Esta esperança inconsciente prende-te ao passado. Impede-te de seguir em frente, de conhecer novas pessoas, de te redescobrires.
É como se tivesses a mala feita, mas sentado/a à porta de casa, à espera que o autocarro que já passou volte para trás. E quanto mais tempo esperas, mais difícil se torna aceitar a realidade.
Em Portugal, onde ainda se romantiza muito a ideia de destino e “se for para ser, será“, esta ilusão é ainda mais forte. Crescemos com fado, com histórias de amores que voltam, com avós que diziam “o amor verdadeiro resiste a tudo“.
E claro, as novelas não ajudam. Mas a verdade é que, muitas vezes, resistir não é amor, mas apego, medo da solidão, teimosia.
Além disso, há um certo conforto em esperar. Esperar evita que enfrentes a dor da perda de vez. É uma espécie de anestesia emocional. Mas essa anestesia custa caro: prolonga o sofrimento, impede-te de criar novas memórias e congela a tua vida sentimental.
O cérebro, em situações de perda, cria fantasias como forma de proteção emocional. Imaginar o/a ex a voltar é uma tentativa de evitar o choque da rejeição.
| Sinais de que estás à espera | O que isso causa |
|---|---|
| Guardar fotos e mensagens antigas | Aumenta a dor e a nostalgia |
| Recusar novos encontros amorosos | Fecha portas à tua felicidade |
| Ficar obcecado/a com “sinais“ | Gera ansiedade e falsas esperanças |
Dica útil: Escreve uma carta que nunca vais enviar, onde aceitas que acabou. É libertador e ajuda o cérebro a encerrar o ficheiro.
Perguntas frequentes
- É normal continuar a sentir dor mesmo depois de meses?
Sim, cada pessoa tem o seu tempo para curar. O luto amoroso dura meses ou até mais de um ano. - Pensar nele/a todos os dias quer dizer que ainda estou apaixonado/a?
Nem sempre. Pode ser apego, hábito ou falta de encerramento emocional. - Por que é que dói tanto, mesmo quando fui eu que terminei?
Porque mesmo quem toma a decisão perde algo: a rotina, os planos, o vínculo emocional. - Ver as redes sociais do/a ex atrapalha a minha recuperação?
Sim. Isso mantém a ferida aberta e prolonga o sofrimento. - Como sei se estou a idealizar a relação?
Se só consegues lembrar-te do lado bom e esqueces o que te fazia sofrer, estás a idealizar. - E se eu estiver à espera que ele/a volte, mesmo sem dizer nada a ninguém?
Isso é comum e perigoso. Essa espera invisível impede-te de seguir em frente. - Os meus amigos dizem para superar. Isso ajuda ou atrapalha?
Depende. Forçar o fim do luto causa mais dor. Apoio é bom, mas sem pressões. - O sexo com o/a ex depois da separação atrasa o processo?
Na maioria dos casos, sim. Cria confusão emocional e reabre feridas. - Como posso saber se já estou a melhorar?
Quando começas a pensar mais em ti do que nele/a. Quando a dor dá lugar a aceitação. - Bloquear nas redes sociais é imaturo?
Nada disso! Às vezes é um acto de amor-próprio e autocuidado. - Estou sozinho/a há muito tempo. Isso é sinal de fracasso?
Claro que não. Estar só é uma fase essencial para te conheceres melhor. - A terapia ajuda mesmo ou é só conversa?
Ajuda e muito. Dá-te ferramentas práticas para processar emoções e seguir em frente. - E se eu tiver feito tudo certo e mesmo assim fui deixado/a?
Nem sempre uma relação acaba por culpa. Às vezes, simplesmente… já não encaixa. - Como evito repetir os mesmos erros numa próxima relação?
Reflexão, terapia, e tempo para aprender com o que passou. - Há um momento certo para começar a namorar de novo?
Não há uma data. Mas é bom esperar até que consigas estar com alguém novo sem estar emocionalmente preso/a ao passado.

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