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Como controlar o impulso incontrolável de ficar olhando as redes sociais do ex?

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Tempo de leitura: 12 minutos

Como controlar o impulso incontrolável de ficar olhando as redes sociais do ex?

A tua paz vale mais do que a curiosidade. Resiste ao impulso de espreitar o ex e foca-te na tua própria vida. A cura começa quando te escolhes a ti.

O segredo para controlar o impulso incontrolável de espreitar as redes sociais do teu ou da tua ex passa por duas fases cruciais:

  1. Primeiro, compreender profundamente as razões psicológicas que te levam a fazê-lo e;
  2. Segundo, aplicar estratégias práticas para quebrar esse ciclo vicioso.

Em vez de te dar conselhos genéricos, este artigo mergulha na raiz do problema, explicando a lógica emocional e neurológica por trás de cada um dos teus impulsos.

Para resolver o problema, é essencial redirecionar o foco da vida do teu/tua ex para a tua própria vida.

Isto implica criar uma distância digital consciente e substituir o hábito de espreitar por novas rotinas que te tragam bem-estar e te ajudem a processar o fim da relação de forma saudável, em vez de o adiar.

Ao continuares a ler, vais encontrar as ferramentas para recuperar o controlo, porque irás:

  1. Perceber como a quebra de rotina cria um vício para preencher o vazio.
  2. Entender por que procuras validação ao questionar se o/a ex está melhor ou pior sem ti.
  3. Reconhecer que o medo de perder o controlo e de ser substituído/a alimenta este ciclo.
  4. Descobrir a importância de buscar um fecho em vez de manter uma falsa esperança de reconciliação.
  5. Identificar como usas a ilusão de conexão para evitar a dor do fim e por que isso te impede de avançar.

A quebra de rotina cria um vício para preencher o vazio

Quando uma relação termina, não perdemos apenas a pessoa, perdemos também toda a rotina que construímos com ela.

O cérebro, que adora hábitos e previsibilidade, entra em pânico com o espaço vazio que fica. A forma mais rápida e acessível de preencher esse buraco é procurar fragmentos da vida que se perdeu, e as redes sociais são a janela mais imediata para isso.

A tua relação, com todos os seus hábitos, era uma rotina segura e confortável. O fim abrupto dessa rotina lança-te num estado de caos e ansiedade, deixando um espaço vazio que grita para ser preenchido com algo, qualquer coisa, familiar.

O impulso de ver o que o teu ex anda a fazer é uma tentativa desesperada do cérebro para restaurar um fragmento dessa normalidade perdida.

É como se ele dissesse: “Eu não sei o que fazer com esta ausência, por isso vamos fazer algo que nos lembre do que tínhamos“. É um mecanismo de sobrevivência emocional, ainda que contraproducente.

Para perceberes melhor esta substituição de hábitos, vê como as pequenas rotinas de um casal são muitas vezes trocadas por comportamentos digitais que dão uma falsa sensação de proximidade.

Rotina durante a relaçãoSubstituto viciante pós-término
Enviar mensagem de bom dia.Verificar se ele/ela está online mal acordas.
Conversar sobre o dia ao jantar.Analisar os últimos gostos e comentários à noite.
Partilhar uma novidade ou uma piada.Procurar pistas ou significados ocultos nas stories.
Sentir conexão e segurança.Alimentar a ansiedade e a falsa esperança.

A lógica por trás deste comportamento é a da substituição de hábitos. O nosso cérebro não lida bem com o vácuo.

Quando um hábito forte e diário, como a interação com um parceiro, é removido, o cérebro procura ativamente uma nova ação para colocar no seu lugar, especialmente nos mesmos momentos do dia.

O ato de verificar as redes sociais é uma ação de baixo esforço com uma recompensa emocional imediata, mesmo que seja negativa.

Encaixa-se perfeitamente nos momentos em que antes pegarias no telemóvel para mandar uma mensagem. Assim, manténs uma ligação ilusória que adia o doloroso, mas necessário, processo de aceitação do fim.


Buscar validação: está o/a ex melhor ou pior sem mim?

A resposta honesta e direta a essa pergunta é: isso não importa e, muito provavelmente, o que tu vês não é a realidade.

A vida que o teu ou a tua ex publica nas redes sociais é uma versão editada e curada, um palco onde apenas as melhores cenas são exibidas ao público.

Ninguém partilha as noites mal dormidas, a sensação de vazio ao chegar a uma casa silenciosa ou a tristeza que surge do nada.

O que vês é a saída com os amigos, a viagem de fim de semana, o novo hobby. É uma performance para o mundo e, muitas vezes, para si próprio/a, numa tentativa de autoconvencimento de que está tudo bem.

Comparar a tua dor real com o espetáculo dele ou dela é injusto para ti.

Para que entendas melhor a diferença entre a perceção e a realidade, vê esta tabela que resume o que se passa na cabeça de quem espia as redes sociais do/a ex:

O que tu vês no perfilO que é a realidade
Uma foto a sorrir numa festa, rodeado/a de gente.Uma tentativa de se distrair da solidão que sente.
Uma publicação sobre um novo projeto profissional.Uma forma de focar a energia em algo para não pensar na relação.
Uma story numa viagem a um sítio paradisíaco.Uma fuga, uma necessidade de escapar das memórias e da rotina.
Uma legenda inspiradora do tipo “A viver a minha melhor vida“.Uma afirmação para se convencer a si mesmo/a de que vai superar.

Um término abala a nossa autoestima, e procuramos, de forma quase desesperada, por um sinal de que éramos importantes.

  • Se o/a ex parece estar pior, sentes um alívio perverso, um pensamento do tipo: “Vês? Ele/a precisa de mim“;
  • Se parece estar melhor, isso confirma o teu pior medo: “Afinal, eu não fiz falta nenhuma“.

Em qualquer um dos cenários, estás a colocar a chave da tua felicidade e da tua recuperação no bolso de outra pessoa.

Estás a deixar que a vida (ou a aparência de vida) de outra pessoa dite o teu valor. É um ciclo que te mantém preso/a ao passado.


O medo de perder o controlo e de ser substituído/a

Este impulso incontrolável de espiar as redes sociais do/a ex nasce, em grande parte, do medo profundo de perder o controlo sobre a narrativa da sua vida e do pavor de ser rapidamente substituído/a.

É a sensação de que, ao deixar de ter acesso àquela pessoa, perdemos também a nossa relevância e o nosso lugar no mundo que partilhávamos.

Quando estamos numa relação, as nossas vidas entrelaçam se. As rotinas, os amigos e os futuros planos tornam se partilhados.

O fim dessa ligação não quebra apenas o laço amoroso, mas também essa realidade construída a dois.

Olhar as redes sociais é uma tentativa desesperada de manter uma janela aberta para esse mundo, de procurar sinais de que a nossa ausência é sentida e de que o nosso lugar ainda está, de alguma forma, por preencher.

A verdade é que esta busca raramente nos dá o que procuramos. Na maioria das vezes, o que esperamos encontrar e o que realmente vemos são duas coisas completamente diferentes, como mostra a tabela abaixo.

O que procuramosO que encontramos
Sinais de que ele/a está tristeFotos dele/a a sorrir com amigos
Uma declaração indireta de saudadeUma música nova que não conhecemos
Confirmação de que está sozinho/aUm comentário de alguém desconhecido
Algo que prove o nosso valorA prova de que a vida continua sem nós

O fim de uma relação gera uma enorme sensação de incerteza e perda de controlo, algo que o nosso cérebro detesta. Para tentar acalmar essa ansiedade, procuramos informação.

Acreditamos que, ao saber o que o/a ex está a fazer, recuperamos uma pequena parte desse controlo.

Pensamos: “Pelo menos assim eu sei o que se passa“. O problema é que esta informação quase sempre confirma os nossos maiores medos, alimentando um ciclo de dor e obsessão.


Manter a esperança de reconciliação ou buscar um fecho

Ainda que o coração teime e a mente crie mil cenários diferentes, a resposta mais saudável e libertadora é quase sempre buscar um fecho.

Manter a esperança de uma reconciliação, especialmente quando se traduz em espreitar as redes sociais do ex, apenas prolonga o sofrimento e impede a tua própria cura.

Ficar agarrado a essa esperança é como viver numa sala de espera sem saber se o comboio que aguardas voltará a passar. Alimenta um ciclo vicioso de ansiedade, onde cada publicação ou “gosto” é analisado à lupa, gerando falsas narrativas.

Buscar um fecho, pelo contrário, é tomar a decisão consciente de sair dessa sala de espera e caminhar em direção a uma nova paisagem, que é a tua própria vida.

Para que a diferença entre os dois caminhos fique mais clara, observa esta tabela. Pensa nela como um mapa que te mostra para onde cada estrada te pode levar e o que vais encontrar pelo caminho.

Ficar na esperançaBuscar o fecho
Emoções de ansiedade, incerteza e montanha russa emocional.Caminho para a aceitação, paz e estabilidade emocional.
Obsessão com as redes sociais, procurando por pistas e sinais.Distanciamento digital, focando a energia em ti.
Foco total no passado e na vida da outra pessoa.Foco no presente e na construção do teu futuro.
Estagnação pessoal e sofrimento prolongado.Cura, crescimento pessoal e abertura a novas oportunidades.

Não podes controlar os sentimentos ou as ações da outra pessoa, mas podes e deves controlar as tuas.

Ao espreitar as redes sociais, estás a entregar o teu bem estar emocional a um algoritmo e a interpretações que, na maioria das vezes, estão erradas.

É um hábito que te aprisiona a perguntas como “Será que ele já está com outra pessoa?” ou “Porque é que ela parece tão feliz sem mim? “. Buscar um fecho é recuperar esse controlo para ti.


Manter a ilusão de conexão para evitar a dor do fim

A razão pela qual sentimos este impulso incontrolável de espreitar as redes sociais de um ex é porque, no fundo, estamos a tentar evitar a dor aguda e real do fim.

É uma forma de enganar o nosso cérebro, fazendo-o acreditar que a pessoa ainda está, de alguma forma, presente e acessível na nossa vida.

Durante a relação, habituámo-nos a ter acesso constante à vida e ao dia a dia do outro. O fim abrupto dessa partilha cria um vazio e uma ansiedade enormes.

Ir ver o seu perfil online oferece uma dose temporária e familiar que acalma o pânico, mas que, na verdade, apenas prolonga o sofrimento e adia a cura.

A diferença entre o que pensamos que estamos a fazer e o que realmente acontece é abismal. Veja bem a discrepância entre a ilusão e a realidade deste hábito:

A ilusãoA realidade
Estou apenas a manter-me atualizado/a.Alimenta um ciclo de ansiedade e cria cenários imaginários que raramente correspondem à verdade.
Isto ajuda-me a processar o que aconteceu.Na verdade, impede o processo de luto, mantendo a ferida aberta e a pessoa presa ao passado.
Se vir que ele/a está feliz, fico feliz também.Quase sempre causa dor, comparação e um sentimento de que fomos facilmente substituídos ou esquecidos.
É só uma espreitadela inofensiva.Cada visualização reforça a ligação emocional que precisa de ser quebrada para que possa seguir em frente.

A dor de aceitar que acabou é imensa, enquanto a pequena dose de familiaridade ao ver uma foto do ex oferece um alívio momentâneo.

É como pôr um penso rápido numa ferida que precisa de ser desinfetada e suturada; parece ajudar na hora, mas impede a cicatrização correta.


Perguntas frequentes

  1. Por que sinto esta vontade de ver as redes do/a meu/minha ex?
    É uma forma de procurar conexão e lidar com a perda. É muito normal.
  2. É errado continuar a espreitar o perfil do/a ex?
    Não é “errado”, mas impede-te de seguir em frente e sarar as feridas.
  3. Como posso resistir à tentação de imediato?
    Desliga o telemóvel ou faz outra atividade diferente por 15 minutos.
  4. Devo bloquear ou apenas deixar de seguir o/a meu/minha ex?
    Bloquear é mais eficaz para criar uma barreira real e proteger-te.
  5. O que faço quando amigos falam do que o/a ex publica?
    Pede com calma para não partilharem essa informação contigo.
  6. A terapia pode ajudar com este impulso?
    Sim, um psicólogo ajuda a entender e a gerir essas emoções de perda.
  7. Ver as redes dele/a vai ajudar-me a superá-lo/a?
    Não. Pelo contrário, apenas prolonga a dor e a ligação emocional.
  8. E se eu vir algo que me magoa no perfil dele/a?
    Isso é muito provável e vai reabrir as tuas feridas. Evita esse risco.
  9. Existem apps que me podem ajudar a evitar os perfis?
    Sim, algumas aplicações bloqueiam o acesso a perfis específicos por ti.
  10. Quanto tempo demora este impulso a desaparecer?
    Varia, mas diminui à medida que te focas em ti e no teu futuro.
  11. O que posso fazer em vez de ir ver as redes sociais?
    Liga a um amigo, vai dar uma caminhada, ouve uma música animada.
  12. É normal sentir-me obcecado/a com isto?
    Sim, é uma reação comum ao fim de uma relação amorosa importante.
  13. Apagar as apps das redes sociais do telemóvel ajuda?
    Sem dúvida. Remover o acesso fácil é um passo muito eficaz para ti.
  14. Como lido com a curiosidade sobre a vida dele/a?
    Aceita a curiosidade, mas escolhe não agir sobre ela. Foca-te em ti.
  15. Ver o/a ex feliz nas redes sociais vai magoar-me?
    Quase de certeza. Protege o teu coração e a tua paz de espírito.

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