Ouvir de verdade no casamento não é só estar presente fisicamente enquanto o outro fala. É mostrar, através de palavras, gestos e ações concretas, que se está atento, interessado e disposto a compreender o que está a ser partilhado.
Isso implica mais do que acenar com a cabeça. É criar uma ligação genuína.
Ao longo de anos a analisar casais portugueses, percebi que muitas discussões e ressentimentos não surgem da falta de amor, mas sim da sensação de não ser ouvido.
A escuta ativa, com perguntas, validação e acompanhamento, tem um impacto direto na harmonia da relação, independentemente do nível de escolaridade ou da situação económica.
Para resolver este problema, é preciso desenvolver hábitos simples:
- Desligar distrações;
- Usar linguagem corporal coerente;
- Confirmar se entendeu bem e, sobretudo;
- Continuar a mostrar atenção mesmo depois da conversa terminar.
Pequenos gestos, como retomar um tema dias depois, transformam a qualidade da comunicação.
Se ler este artigo até ao fim, vai descobrir:
- Como usar perguntas abertas para aprofundar conversas.
- O truque de identificar e aprender com padrões de conflito.
- Como alinhar corpo e palavras para transmitir atenção.
- A importância de perguntar o que o outro precisa naquele momento.
- O método para resumir e confirmar o que ouviu, evitando confusões.
1. Faça perguntas abertas e de seguimento
Se quer mostrar que está mesmo a ouvir no casamento, faça perguntas abertas e de seguimento. Nada de “Sim“, “Não“, ou “Pois, tá bem“.
Perguntas como “E depois, o que aconteceu?” ou “Como é que isso te fez sentir?” mostram interesse genuíno e dão espaço para a outra pessoa se abrir.
Esta prática funciona porque evita que a conversa morra logo ali. Em Portugal, muita gente tem o hábito de cortar a conversa cedo, seja porque acha que já percebeu tudo, seja porque está a pensar no jantar que ficou ao lume.
As perguntas abertas obrigam a ouvir com atenção, e as de seguimento mostram que estava, de facto, a acompanhar. Além disso, promovem cumplicidade, que é ouro num casamento.
Exemplos de perguntas abertas e de seguimento úteis:
| Pergunta Aberta | Pergunta de Seguimento |
|---|---|
| O que é que mais te marcou nesse dia? | E depois disso, como reagiste? |
| Qual foi a parte mais difícil? | Isso fez-te lembrar de outra situação? |
| O que é que pensas fazer a seguir? | E qual é o próximo passo? |
| Como é que isso te fez sentir? | E o que pensaste naquele momento? |
A lógica é simples: quando faz perguntas abertas, a outra pessoa fala mais, e quando faz perguntas de seguimento, mostra que está ligado/a ao que ela disse.
É como regar uma planta: se só atira um copo de água e vai à sua vida, ela até sobrevive, mas se vai regando com calma, cresce e floresce.
E no casamento, florescer é muito mais bonito do que murchar.
2. Aprenda com os padrões de conflito
Para mostrar que está a ouvir no casamento, aprenda com os padrões de conflito.
Não é só ouvir no momento da discussão e depois esquecer. É guardar o que foi dito e perceber o que está por trás. Perguntar “O que aprendemos sobre nós com esta briga?” é sinal de atenção e maturidade.
Isto é importante porque, em Portugal, muita gente ainda encara as discussões como sinais de crise ou como algo a varrer para debaixo do tapete.
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Mas, na verdade, os conflitos são oportunidades para ajustar a forma como comunicam.
Ao reconhecer padrões, seja discutir sempre por causa de dinheiro, tarefas domésticas ou sogras, está a mostrar que ouviu e quer evitar repetições.
Casais portugueses discutem mais por causa de dinheiro do que por ciúmes. Muitas vezes, essas discussões escondem problemas de comunicação e não apenas de euros e cêntimos?
A lógica é direta: quem ouve com atenção percebe que cada discussão é como um capítulo de uma série: se entender o enredo, evita que o próximo episódio seja igual ao anterior.
É como ajustar a receita de um prato que ficou salgado demais. Aprende-se e melhora-se.
Para aprofundar este ponto, leia Uma briga por semana: crise, normalidade ou estilo de comunicação?, que explica se a sua relação está em crise ou apenas a seguir um padrão.
3. Alinhe a linguagem corporal
Quer mostrar que está a ouvir no casamento? Alinhe a sua linguagem corporal.
Não adianta dizer “Estou a ouvir-te” se está com os olhos no telemóvel ou a ver o Benfica na TV. O corpo fala tanto como a boca, e, às vezes, até mais.
Nossa cultura valoriza muito o estar presente de corpo e alma. Em Portugal, sabe-se bem quando alguém está só a ouvir por obrigação, e isso cria ressentimento.
Olhar nos olhos, inclina-se para a frente, largar o telemóvel e responde com pequenos gestos de confirmação (“Pois, claro“, “Entendo“) mostra que a atenção está ali e não em outro lugar.
Gestos que mostram atenção vs. gestos que distraem:
| Gestos de atenção | Gestos que distraem |
|---|---|
| Olhar nos olhos | Mexer no telemóvel |
| Inclinar o corpo para a frente | Cruzar braços de forma fechada |
| Acenar levemente com a cabeça | Olhar para o relógio |
| Expressões faciais coerentes | Suspirar de aborrecimento |
A lógica é simples: quando o corpo está alinhado com a escuta, a outra pessoa sente-se respeitada. É como servir um bom café: não basta pôr a chávena na mesa, é preciso estar ali, olhar, sorrir e dar aquele toque humano que torna tudo mais quente e próximo.
4. Pergunte do que precisa agora
Se quer mostrar que está mesmo a ouvir no casamento, pergunte ao seu parceiro ou parceira do que precisa naquele momento.
Às vezes, a pessoa quer apenas desabafar; noutras, espera uma solução prática. Perguntar “Queres só que eu ouça, ou queres ideias?” evita confusões e mal-entendidos.
Ao clarificar logo de início, mostra que está atento/a não só às palavras, mas também às necessidades emocionais do momento.
Exemplo de possíveis respostas e como reagir:
| Resposta do parceiro/a | O que fazer |
|---|---|
| Só quero desabafar | Ouvir, validar emoções e não dar conselhos. |
| Preciso de ajuda para resolver | Propor soluções e colaborar. |
| Quero ouvir a tua opinião | Partilhar de forma construtiva, sem impor. |
| Ainda não sei | Dar espaço e mostrar disponibilidade. |
A lógica é clara: perguntar do que a pessoa precisa poupa discussões desnecessárias e evita aquela sensação de “não me ouves!“.
É como ir ao talho e confirmar se quer frango ou porco antes de trazer para casa: evita surpresas desagradáveis e mostra que se preocupa com o que o outro realmente quer.
5. Resuma e peça confirmação
Para mostrar que está mesmo a ouvir no casamento, resuma o que o outro disse e peça confirmação.
Algo como “Então, se percebi bem, estás chateado porque o jantar atrasou e isso estragou os teus planos, certo?“. Esta pequena frase evita grandes tempestades.
É comum que as conversas se percam em interpretações e “foi isso que eu disse?!“. Ao fazer um resumo, está a construir uma ponte sólida entre o que foi dito e o que foi entendido.
Pedir confirmação dá à outra pessoa a oportunidade de corrigir, reforçar ou aprofundar a mensagem, evitando confusões.
Benefícios de resumir e confirmar:
| Benefício | Efeito no casamento |
|---|---|
| Evita mal-entendidos | Reduz discussões desnecessárias |
| Mostra atenção genuína | Aumenta confiança |
| Dá oportunidade de clarificar | Melhora a comunicação |
| Valoriza a opinião do outro | Fortalece o vínculo emocional |
Resumir é como fazer um backup da conversa e garantir que a informação não se perde e que está guardada de forma correta.
Pedir confirmação é como verificar se o ficheiro está mesmo igual ao original. Assim, ambos sabem que estão na mesma página… e no mesmo capítulo.
Perguntas frequentes
- Tenho de repetir tudo o que a outra pessoa disse para mostrar que ouvi?
Não precisa ser palavra por palavra. Basta resumir a ideia principal e confirmar se percebeu bem. - Olhar nos olhos é assim tão importante?
Sim. É como dizer “estou contigo” sem abrir a boca. Mas sem parecer que está a fazer concurso de quem pisca menos. - Ouvir significa sempre ficar calado?
Não. Às vezes, pequenas respostas como “Pois”, “Entendo” ajudam a mostrar que está atento, sem cortar o raciocínio. - Posso mostrar que ouvi através de mensagens de telemóvel?
Pode, mas não é a mesma coisa. Ao vivo, há o tom de voz e os gestos, que dizem muito mais. - O que faço se não percebi bem o que foi dito?
Pergunte. Dizer “Não percebi, podes explicar outra vez?” mostra mais atenção do que fingir que entendeu. - É errado dar logo soluções?
Depende. Primeiro pergunte se a pessoa quer soluções ou só desabafar. Evita meter-se onde não foi chamado. - E se eu estiver cansado/a e não conseguir prestar atenção?
Seja honesto/a: “Quero ouvir-te, mas agora não estou com a cabeça livre. Podemos falar mais logo?”. - Posso mostrar que ouvi através de gestos?
Claro. Acenar com a cabeça, sorrir, tocar na mão… pequenos gestos valem muito. - Vale a pena tomar notas mentais do que foi dito?
Sim. E até anotações no telemóvel, se for algo importante para lembrar mais tarde. - Ouvir também é lembrar-se do que foi dito noutras conversas?
Sem dúvida. Retomar um tema antigo mostra que não foi conversa “de entra por um ouvido e sai pelo outro”. - Se eu discordar, ainda posso mostrar que ouvi?
Claro. Ouvir não é concordar com tudo. É respeitar a opinião antes de responder. - E se a pessoa falar muito depressa?
Peça para repetir devagar. É melhor do que perder o fio à meada. - Ouvir bem ajuda a evitar discussões?
Sim. Muitos conflitos vêm de não se ouvir com atenção ou de se interpretar mal. - É preciso largar o telemóvel para mostrar que estou a ouvir?
Sim. A menos que esteja a usar o telemóvel para tomar notas do que o outro diz. - Como posso treinar para ouvir melhor?
Pratique ouvir sem interromper, repita a ideia principal e use perguntas de seguimento.

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