Relações em Portugal, com mais presença, afeto e consciência.

Como é que se mostra que se está mesmo a ouvir no casamento?

|

Tempo de leitura: 9 minutos

Como é que se mostra que se está mesmo a ouvir no casamento?

Mostrar que se ouve no casamento é participar ativamente na conversa, validar emoções, fazer perguntas e lembrar o que foi dito.

Ouvir de verdade no casamento não é só estar presente fisicamente enquanto o outro fala. É mostrar, através de palavras, gestos e ações concretas, que se está atento, interessado e disposto a compreender o que está a ser partilhado.

Isso implica mais do que acenar com a cabeça. É criar uma ligação genuína.

Ao longo de anos a analisar casais portugueses, percebi que muitas discussões e ressentimentos não surgem da falta de amor, mas sim da sensação de não ser ouvido.

A escuta ativa, com perguntas, validação e acompanhamento, tem um impacto direto na harmonia da relação, independentemente do nível de escolaridade ou da situação económica.

Para resolver este problema, é preciso desenvolver hábitos simples:

  • Desligar distrações;
  • Usar linguagem corporal coerente;
  • Confirmar se entendeu bem e, sobretudo;
  • Continuar a mostrar atenção mesmo depois da conversa terminar.

Pequenos gestos, como retomar um tema dias depois, transformam a qualidade da comunicação.

Se ler este artigo até ao fim, vai descobrir:

  • Como usar perguntas abertas para aprofundar conversas.
  • O truque de identificar e aprender com padrões de conflito.
  • Como alinhar corpo e palavras para transmitir atenção.
  • A importância de perguntar o que o outro precisa naquele momento.
  • O método para resumir e confirmar o que ouviu, evitando confusões.

1. Faça perguntas abertas e de seguimento

Se quer mostrar que está mesmo a ouvir no casamento, faça perguntas abertas e de seguimento. Nada de “Sim“, “Não“, ou “Pois, tá bem“.

Perguntas como “E depois, o que aconteceu?” ou “Como é que isso te fez sentir?” mostram interesse genuíno e dão espaço para a outra pessoa se abrir.

Esta prática funciona porque evita que a conversa morra logo ali. Em Portugal, muita gente tem o hábito de cortar a conversa cedo, seja porque acha que já percebeu tudo, seja porque está a pensar no jantar que ficou ao lume.

As perguntas abertas obrigam a ouvir com atenção, e as de seguimento mostram que estava, de facto, a acompanhar. Além disso, promovem cumplicidade, que é ouro num casamento.

Exemplos de perguntas abertas e de seguimento úteis:

Pergunta AbertaPergunta de Seguimento
O que é que mais te marcou nesse dia?E depois disso, como reagiste?
Qual foi a parte mais difícil?Isso fez-te lembrar de outra situação?
O que é que pensas fazer a seguir?E qual é o próximo passo?
Como é que isso te fez sentir?E o que pensaste naquele momento?

A lógica é simples: quando faz perguntas abertas, a outra pessoa fala mais, e quando faz perguntas de seguimento, mostra que está ligado/a ao que ela disse.

É como regar uma planta: se só atira um copo de água e vai à sua vida, ela até sobrevive, mas se vai regando com calma, cresce e floresce.

E no casamento, florescer é muito mais bonito do que murchar.


2. Aprenda com os padrões de conflito

Para mostrar que está a ouvir no casamento, aprenda com os padrões de conflito.

Não é só ouvir no momento da discussão e depois esquecer. É guardar o que foi dito e perceber o que está por trás. Perguntar “O que aprendemos sobre nós com esta briga?” é sinal de atenção e maturidade.

Isto é importante porque, em Portugal, muita gente ainda encara as discussões como sinais de crise ou como algo a varrer para debaixo do tapete.

Mas, na verdade, os conflitos são oportunidades para ajustar a forma como comunicam.

Ao reconhecer padrões, seja discutir sempre por causa de dinheiro, tarefas domésticas ou sogras, está a mostrar que ouviu e quer evitar repetições.

Casais portugueses discutem mais por causa de dinheiro do que por ciúmes. Muitas vezes, essas discussões escondem problemas de comunicação e não apenas de euros e cêntimos?

A lógica é direta: quem ouve com atenção percebe que cada discussão é como um capítulo de uma série: se entender o enredo, evita que o próximo episódio seja igual ao anterior.

É como ajustar a receita de um prato que ficou salgado demais. Aprende-se e melhora-se.

Para aprofundar este ponto, leia Uma briga por semana: crise, normalidade ou estilo de comunicação?, que explica se a sua relação está em crise ou apenas a seguir um padrão.


3. Alinhe a linguagem corporal

Quer mostrar que está a ouvir no casamento? Alinhe a sua linguagem corporal.

Não adianta dizer “Estou a ouvir-te” se está com os olhos no telemóvel ou a ver o Benfica na TV. O corpo fala tanto como a boca, e, às vezes, até mais.

Nossa cultura valoriza muito o estar presente de corpo e alma. Em Portugal, sabe-se bem quando alguém está só a ouvir por obrigação, e isso cria ressentimento.

Olhar nos olhos, inclina-se para a frente, largar o telemóvel e responde com pequenos gestos de confirmação (“Pois, claro“, “Entendo“) mostra que a atenção está ali e não em outro lugar.

Gestos que mostram atenção vs. gestos que distraem:

Gestos de atençãoGestos que distraem
Olhar nos olhosMexer no telemóvel
Inclinar o corpo para a frenteCruzar braços de forma fechada
Acenar levemente com a cabeçaOlhar para o relógio
Expressões faciais coerentesSuspirar de aborrecimento

A lógica é simples: quando o corpo está alinhado com a escuta, a outra pessoa sente-se respeitada. É como servir um bom café: não basta pôr a chávena na mesa, é preciso estar ali, olhar, sorrir e dar aquele toque humano que torna tudo mais quente e próximo.


4. Pergunte do que precisa agora

Se quer mostrar que está mesmo a ouvir no casamento, pergunte ao seu parceiro ou parceira do que precisa naquele momento.

Às vezes, a pessoa quer apenas desabafar; noutras, espera uma solução prática. Perguntar “Queres só que eu ouça, ou queres ideias?” evita confusões e mal-entendidos.

Ao clarificar logo de início, mostra que está atento/a não só às palavras, mas também às necessidades emocionais do momento.

Exemplo de possíveis respostas e como reagir:

Resposta do parceiro/aO que fazer
Só quero desabafarOuvir, validar emoções e não dar conselhos.
Preciso de ajuda para resolverPropor soluções e colaborar.
Quero ouvir a tua opiniãoPartilhar de forma construtiva, sem impor.
Ainda não seiDar espaço e mostrar disponibilidade.

A lógica é clara: perguntar do que a pessoa precisa poupa discussões desnecessárias e evita aquela sensação de “não me ouves!.

É como ir ao talho e confirmar se quer frango ou porco antes de trazer para casa: evita surpresas desagradáveis e mostra que se preocupa com o que o outro realmente quer.


5. Resuma e peça confirmação

Para mostrar que está mesmo a ouvir no casamento, resuma o que o outro disse e peça confirmação.

Algo como “Então, se percebi bem, estás chateado porque o jantar atrasou e isso estragou os teus planos, certo?“. Esta pequena frase evita grandes tempestades.

É comum que as conversas se percam em interpretações e “foi isso que eu disse?!“. Ao fazer um resumo, está a construir uma ponte sólida entre o que foi dito e o que foi entendido.

Pedir confirmação dá à outra pessoa a oportunidade de corrigir, reforçar ou aprofundar a mensagem, evitando confusões.

Benefícios de resumir e confirmar:

BenefícioEfeito no casamento
Evita mal-entendidosReduz discussões desnecessárias
Mostra atenção genuínaAumenta confiança
Dá oportunidade de clarificarMelhora a comunicação
Valoriza a opinião do outroFortalece o vínculo emocional

Resumir é como fazer um backup da conversa e garantir que a informação não se perde e que está guardada de forma correta.

Pedir confirmação é como verificar se o ficheiro está mesmo igual ao original. Assim, ambos sabem que estão na mesma página… e no mesmo capítulo.


Perguntas frequentes

  1. Tenho de repetir tudo o que a outra pessoa disse para mostrar que ouvi?
    Não precisa ser palavra por palavra. Basta resumir a ideia principal e confirmar se percebeu bem.
  2. Olhar nos olhos é assim tão importante?
    Sim. É como dizer “estou contigo” sem abrir a boca. Mas sem parecer que está a fazer concurso de quem pisca menos.
  3. Ouvir significa sempre ficar calado?
    Não. Às vezes, pequenas respostas como “Pois”, “Entendo” ajudam a mostrar que está atento, sem cortar o raciocínio.
  4. Posso mostrar que ouvi através de mensagens de telemóvel?
    Pode, mas não é a mesma coisa. Ao vivo, há o tom de voz e os gestos, que dizem muito mais.
  5. O que faço se não percebi bem o que foi dito?
    Pergunte. Dizer “Não percebi, podes explicar outra vez?” mostra mais atenção do que fingir que entendeu.
  6. É errado dar logo soluções?
    Depende. Primeiro pergunte se a pessoa quer soluções ou só desabafar. Evita meter-se onde não foi chamado.
  7. E se eu estiver cansado/a e não conseguir prestar atenção?
    Seja honesto/a: “Quero ouvir-te, mas agora não estou com a cabeça livre. Podemos falar mais logo?”.
  8. Posso mostrar que ouvi através de gestos?
    Claro. Acenar com a cabeça, sorrir, tocar na mão… pequenos gestos valem muito.
  9. Vale a pena tomar notas mentais do que foi dito?
    Sim. E até anotações no telemóvel, se for algo importante para lembrar mais tarde.
  10. Ouvir também é lembrar-se do que foi dito noutras conversas?
    Sem dúvida. Retomar um tema antigo mostra que não foi conversa “de entra por um ouvido e sai pelo outro”.
  11. Se eu discordar, ainda posso mostrar que ouvi?
    Claro. Ouvir não é concordar com tudo. É respeitar a opinião antes de responder.
  12. E se a pessoa falar muito depressa?
    Peça para repetir devagar. É melhor do que perder o fio à meada.
  13. Ouvir bem ajuda a evitar discussões?
    Sim. Muitos conflitos vêm de não se ouvir com atenção ou de se interpretar mal.
  14. É preciso largar o telemóvel para mostrar que estou a ouvir?
    Sim. A menos que esteja a usar o telemóvel para tomar notas do que o outro diz.
  15. Como posso treinar para ouvir melhor?
    Pratique ouvir sem interromper, repita a ideia principal e use perguntas de seguimento.

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *


Categorias

Ciúme (15) Comunicação (17) Fim da relação (16) Mundo digital (16) Namoro online (14) Sexualidade (15) Traição (20)